Em 21 de agosto de 2020
Eliana Cavalcante
Meu coração sangra e a minha alma está combalida. A cada dia que passa o sofrimento aumenta porque a indignação se agiganta. Primeiro, fizeram-nos assinar um Termo de Posse e um Termo de Entrega de Chaves. Relutei muito, mas eu estava naquela situação de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, e fomos orientados pelos nossos advogados a assinar os tais termos. O infeliz desse acordo extrajudicial foi feito entre o Ministério Público e a Braskem, ou seja, foi unilateral, pois, nem moradores nem empreendedores dos quatro bairros afetados (as vítimas da tragédia) tomaram parte, e ele só beneficiou à Braskem. Resumindo: o imóvel não é mais nosso. E o que é pior, não sabemos quando nem quanto receberemos de indenização. Fomos expulsos da nossa propriedade sem nenhuma garantia. Há poucos dias, a perplexidade tomou conta de todos nós, pois chegou ao nosso conhecimento um vídeo de divulgação (não sei se vazou ou se foi exposto propositadamente) falando de um Plano de Ações Estratégicas para os quatro bairros afetados pela mineradora Braskem. Nesse Plano tem ciclovia, parque e até o VLT funcionando. Isso é uma piada? Ora, se nós tivemos de abandonar ( alguns ainda estão resistindo) os nossos bairros, a nossa história, os nossos patrimônios porque existe um perigo iminente de um desastre de grandes proporções ou mesmo de um sinkhole (desabamento repentino em forma de pia, ou seja, afunilado) alertado pela CPRM, como criaram esse Plano de Ações? De quem foi essa ideia estapafúrdia? E como a Prefeitura entrou nisso? Não sei se esse plano é algo oficial, mas, até agora, ninguém desmentiu. Sei que vi comentários de muita gente desavisada, de uma certa forma festejando o tal Plano de Estratégias. Que maravilha, não? Já estou ouvindo os diálogos: “Vamos fazer um passeio de bicicleta, passando por aquele maravilhoso pulmão verde, orgulho da nossa cidade?” Ou, então: “Vamos de VLT? É mais rápido e não precisa pegar a Avenida Fernandes Lima!”
São absurdos em cima de absurdos. Sinto, hoje, que nós não somos só as vítimas dessa catástrofe, mas os palhaços de um circo de horror, criado pela ganância e a soberba de uns poucos que ajudam a denegrir a nossa história. Não merecemos tamanho descaso. Cuidem primeiro das indenizações! Depois, inventem suas fantasias. A não ser que… As minhas ideias estão alvoroçadas e a imaginação fertilizada por conjecturas que me levam a calar, por enquanto. Afinal, “em boca fechada não entra mosca”.