EU

Egoísta que pareça, o eu sou eu.

Sorrindo, sofrendo, vivendo,

Esperando, lutando e amando,

Crescendo no espaço,

Forjando o aço.

Chorando no riso,

Rindo no choro.

Somando.

Sempre somando.

Querendo.

Chegando.

Por dentro quem conhece o eu?

Eu.

Emoção.

Intenção.

É bom!

Eu quero.

Eu vejo.

Eu sonho.

Espero.

Alcanço.

Balanço.

Equilibro.

Ouço.

Vejo.

Falo.

Às vezes demais.

Outras, de menos.

Desejo.

Para mim.

Mais para os outros.

Pecado?

Quem sabe?

Bem.

Quero o bem.

Nunca demais.

Felicidade.

Verdade.

Mesmo que pareça mentira.

Amo.

A mim mesmo.

A muita gente.

Ou pouca gente que vale muito.

Flores.

Vida.

Poesia.

Alegria.

Trabalho.

Esperança.

Criança,

Idade.

Cada vez mais.

Cada vez menos.

Passado.

Tudo pra trás.

Muito pra frente.

Semente.

Brota.

Cresce.

Viceja.

Tudo como dantes.

Certo.

Tudo certo.

No fim…

Dá certo.

Quem?

Eu.

* Poesia escrita em 20.11.1977

A VEZ DO SIM

Digamos que sim.

Façamos do sim um corriqueiro sim.

E de sim em sim

Tentemos viver assim

Abolindo o não do coração.

E, por que não?

Será tão difícil dizer sim

Ou mais tranquilo e cômodo

Dizer não?

Pense.

E diga a você mesmo:

Meu Deus, como é bom o sim

Que vem a mim!

E por que então dizer não

Ao meu próprio sim?

A partir de então

Farei do sim um oposto

E guerrilheiro ao não!

* Poesia escrita em 1977

PREITO ANTIGO

Sempre tive por ela um imenso carinho.

Com ela eu conversava absolutamente sozinho,

Apenas eu falava.

Ela ouvia e registrava tudo o que eu dizia

Palavra por palavra e ainda que heresia,

Somente me escutava.

As descidas e subidas do meu temperamento

Eu exorcizava nela, a qualquer momento,

Sem um pio de reclamação.

Fosse padre, e, sem dúvida, seria um confessor

Que absorvia tudo com profundo amor

E me dava a absolvição.

Por toda uma vida ela aguentou a minha extravasão.

A minha ânsia de criar, de ser uma exceção.

E resistiu sem muita dor.

Hoje. largada a um canto, simplesmente abandonada,

Minha máquina de escrever foi traída e ultrajada

Pelo meu computador.

* Poesia escrita em fevereiro de 1999

PÉS NO CHÃO

A vida tem sido um sonho diferente e bom

Que, na verdade, de quando em vez, muda de tom.

Cai-se no abismo indesejado do pesadelo,

Um irritante e consequente selo

Que a vida cisma em editar.

Incoerente seria ela se não tivesse idas e vindas

Num passear eterno de estradas infindas.

Seria tola, sem graça, impertinente.

Um desfilar igual de toda a gente,

Um monótono e cansativo passear.

Imagine-se marcada ao começo da existência,

Dias e noites no mesmo embalar, sem consequência.

Sentir-nos-íamos no Universo, um ponto

Sem ao menos encontrarmos contraponto

Que nos fizessem aguerridos a lutar.

Não. Nem de longe pensem que o poema é masoquismo.

Se a vida fosse reta, isto sim, seria um casuísmo.

Mas que sabor teriam nossas estórias

Se não pudéssemos contar derrotas e vitórias

E com os pés no chão esboçar sorrisos e também chorar?

* Poesia escrita em 2007