CONVOCAÇÃO DA ENERGIA
Geoberto Espírito Santo
GES Consultoria, Engenharia
A cada quatro anos temos uma copa e a energia nunca deixou de participar como
uma das favoritas. Esta será no Brasil e se espera que o ente maior da nossa federação
dê caminhamento ao trabalho que vem sendo feito pela comissão técnica. Deverá haver
um maior entrosamento entre o presidente da federação e o conselho deliberativo para
que haja uma transição energética justa, com modernidade, segurança e ingresso barato
para os torcedores, razão de ser dos estádios cheios, vibração e motivação para as fontes
que fazem o espetáculo. Devem definir o que não pode prejudicar suas imagens e a
confiança da torcida que os colocou nessas posições.
A comissão técnica vive o dia a dia das fontes convocadas, conhece suas
potencialidades, problemas e estudam os desafios dos próximos jogos. As associações
representantes das fontes não precisam supervalorizar atributos e interferir na escalação,
quer para valorizar seus pares, quer visualizando possíveis vendas para o exterior. A
matriz de sucesso deve ser escalada onde cada fonte faça sua parte, sem sobrecarregar
as outras porque sem entrosamento a torcida não vibrará. Muita atenção com a
alimentação dessas fontes, com a matéria-prima a ser utilizada e sua escassez.
Jogos foram assistidos na Europa e a questão da segurança energética não veio
por causa da guerra na Ucrânia. Mais cedo ou mais tarde, um ataque apenas com foco
em eólicas e solares, sem uma retaguarda de armazenamento, terminaria resultando
numa defesa sem segurança. Aqui, temos uma base hidro que pode jogar fazendo esse
papel, mas lá, a solução de aumentar o ataque com as mesmas fontes, que já apresentam
problemas no espaço físico, vai deixar as equipes europeias ainda mais vulneráveis. É
preciso entender que a segurança da torcida deve ser paga por todos.
Temos adversários desafiadores à nossa capacidade de reunir fontes, que devem
ser complementares para a produção dos resultados esperados pela arquibancada e a
geral. Ainda tem muita gente na geral em nossos estádios, pagando ingresso mais caro
para a economia de outros que estão nas arquibancadas e camarotes. Temos que
enfrentar a expansão da oferta, inserção de renováveis, abertura do mercado livre,
geração distribuída, desoneração tarifária, eólicas offshore, acesso a transmissão,
renovação das concessões, contratos legados, smart grids, carros elétricos, mobilidade
urbana e cidades inteligentes. Terá que ser feito uma série de jogadas modernas e bem
treinadas, que vão exigir um comprometimento de todas as fontes liberadas para jogar,
não só pela premiação com o sucesso, mas principalmente para o bem estar da torcida.
O esquema de jogo do momento é o 4-1-4-2. A escalação para uma matriz
potência e energia é: MME na meta e a defesa com EPE, ONS e CCEE. Na frente da
zaga a ANEEL. No meio campo a HIDRO, GÁS NATURAL, NUCLEAR e
BIOMASSA. O ataque com EÓLICA e SOLAR.
O MME deve dar a saída da bola com racionalidade, procurar as jogadas mais
para o centro e firmar acordos para eliminar os jabutis com projetos visando o produtor
rural, a agricultura familiar e as questões sociais. Ter consciência que, ultimamente,
certos acordos trouxeram perigos para a nossa grande área. Mercado livre e geração
distribuída melhor delineados para não provocar desequilíbrio, eliminando todos os
subsídios antes da abertura total. Na zaga, a EPE, responsável pelo planejamento inicial
das jogadas, compromisso com a oferta, eficiência energética, sustentabilidade
econômica, social e ambiental. Traçar uma expansão diversificada, mas de forma
organizada e de custo baixo. Criar condições para que a geração offshore não
comprometa a demanda interna e os custos. O ONS, não só jogar com o lançamento em
linhas de longa distância, mas utilizar sua capacidade de agregar demanda e se preparar
quando estiver só no ataque, com jogadas curtas com operadores dos sistemas de
distribuição. A CCEE, participando do ataque pelos flancos, reunindo dados de
comercialização e regras para um acordo de agentes em que todos devem perder uma
parte para o bem comum, porque a conta hoje é 120 e só ser 100.
A ANEEL precisa de maior governança para cumprir seu papel de prever as
jogadas futuras, sendo detentora das decisões técnicas e econômicas. Não pode parar em
campo, constantemente deve estar reavaliando o arcabouço institucional e regulatório,
combinando diversidade da matriz com segurança e racionalidade nos descontos e
subsídios. Deve atender as políticas públicas com atratividade para os investidores, sem
comprometer o bolso dos consumidores. Iniciar jogada com o MME para zerar os
subsídios da GD e da CDE até 2030 e se, realmente, for preciso subsidiar, que seja pelo
governo.
No meio campo, a HIDRO é a fonte mais antiga do plantel, chegou a representar
99% da sua energia para o sucesso da matriz. Agora representa 54% e, salvo sua
recuperação física, deverá ter uma menor participação com experiência aproveitada. O
GÁS NATURAL, apontado como o energético da transição, precisa ser melhor
orientado para abrir o jogo porque insiste pelo meio. A NUCLEAR, sempre muito
criticada por problemas anteriores extra campo, é de muita importância para a segurança
energética pela continuidade e a que menos danifica a grama do ambiente dos estádios.
A BIOMASSA tem um bom potencial, podendo jogar com muita energia e, numa
tabelinha, formar uma jogada híbrida de potência para compor o ataque.
E o ataque com EÓLICA e SOLAR, pois estão em crescente evolução técnica,
são as mais conhecidas mundialmente quando se fala em renovação da energia.
No banco de reservas, certos que vão entrar no decorrer dos certames, o BIOGÁS
e o RSU (Resíduos Sólidos Urbanos), certos que vão entrar nos certames e aproveitar as
oportunidades. O CARVÃO está no departamento médico e o HIDROGÊNIO VERDE,
apesar da torcida, não foi convocado para a geração de eletricidade.
Caso tenha havido um posicionamento de meia verdade para beneficiar alguma
fonte, a jogada tem que ser anulada com o traçado das linhas pela Frente Nacional dos
Consumidores de Energia, mostrando para os narradores e para a torcida o porquê do
impedimento.