PÉS NO CHÃO
A vida tem sido um sonho diferente e bom
Que, na verdade, de quando em vez, muda de tom.
Cai-se no abismo indesejado do pesadelo,
Um irritante e consequente selo
Que a vida cisma em editar.
Incoerente seria ela se não tivesse idas e vindas
Num passear eterno de estradas infindas.
Seria tola, sem graça, impertinente.
Um desfilar igual de toda a gente,
Um monótono e cansativo passear.
Imagine-se marcada ao começo da existência,
Dias e noites no mesmo embalar, sem consequência.
Sentir-nos-íamos no Universo, um ponto
Sem ao menos encontrarmos contraponto
Que nos fizessem aguerridos a lutar.
Não. Nem de longe pensem que o poema é masoquismo.
Se a vida fosse reta, isto sim, seria um casuísmo.
Mas que sabor teriam nossas estórias
Se não pudéssemos contar derrotas e vitórias
E com os pés no chão esboçar sorrisos e também chorar?
* Poesia escrita em 2007
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